14 de agosto de 2011

O umbigo do mundo

Os três textos a seguir foram extraídos do blogue "Convictos ou Alienados?", do mesmo editor deste aqui. Foram postagens seguidas, I, II e II, que serão coladas na mesma sequência aqui. São textos de 2008. Não atentarei para as regras da nossa lingua naquele ano, modificadas pela reforma ortográfica em andamento.


Umbigo do mundo - I

Lembro-me de uma ocasião em que o “umbigo do mundo” se manifestou de forma incisiva e clara. Ronald Reagan era o presidente dos Estados Unidos da América e o João Paulo II era o papa. A América do Norte estava saindo de uma recessão e o papa era popular no mundo inteiro.

O “umbigo do mundo” asseverou aos quatro cantos o que estava para acontecer: a junção da política com a religião. Essa era a profecia. O “umbigo do mundo” via nisso o grande sinal vindo dos céus em sua direção. Aviso divino para ele, o importantíssimo “umbigo do mundo”.

Não faz muito tempo houve uma calamidade. Tsunami e milhares de mortes. Eis uma do “umbigo do mundo”: “aviso de Deus para que ele, “umbigo do mundo”, ficasse preparado”. Que aviso eloqüente! Quantos morreram para que o “umbigo do mundo” ficasse ciente do aviso? Trezentas mil pessoas?

Outra do “umbigo do mundo”: o papa Bento XVI nos Estados Unidos. Eis que o nosso personagem vislumbrou novo aviso: “Deus nos alerta, o poder político está de mãos dadas com o poder religioso”. O “umbigo do mundo” nem se deu conta de que o representante do poder político era nada mais, nada menos do que George W. Bush, o mais impopular presidente da história americana! Para o “umbigo do mundo” isso faz pouca diferença. Quem de fato importa é ele, “senhor umbigo do mundo”, para quem tudo acontece apenas para que ele fique atento...

O “umbigo do mundo” está de volta! A combinação é Bento XVI e Barak Hussein Obama. A mistura é claríssima, para ele, o “umbigo do mundo”. Bento XVI, segundo ele, “senhor umbigo”, é um papa surpreendente. E Obama é negro, com sobrenome ligado ao islã, simpatizante da virgem Maria, enfim um líder nato e com tendências ecumênicas...

Amigo leitor preste atenção de agora em diante. O “umbigo do mundo” vociferará, profetizará e o tempero você já sabe: o papa e o novo presidente americano.

O “senhor umbigo do mundo” tem os ingredientes ideais e não tenha dúvida: ele os utilizará.

Aguardemos...


Umbigo do mundo - II
 
Quando se fala da atenção de uma divindade para determinado grupo de pessoas o que surge como interrogação é a questão da Justiça divina. Seria possível um ser criador privilegiar um grupo especial em detrimento de outros? Caso assim ocorra qual seria o objetivo final?

Um estudo cristão protestante, escudado no antigo povo israelita, denotaria que aquela nação foi escolhida para receber mensagem especial e retransmiti-la ao mundo. Em “miúdos” diríamos que o antigo Israel foi escolhido para ser uma bênção para os demais povos.

Conclui-se, portanto, que os escolhidos são portadores da mensagem especial. Notem que “são portadores” o que difere, em muito, de “são detentores”.

Eis aí algo que derruba a tese do “umbigo do mundo”. Esse ente egocêntrico parece não entender o “espírito da coisa”. Tudo que acontece no mundo é um aviso para que ele, “umbigo do mundo” se proteja contra as ações deletérias dos “homens maus” que perseguirão o suposto “remanescente de Deus”.

Seria assim mesmo? O povo remanescente não deveria ver nos sinais dos tempos os eventos essenciais motivadores do testemunho ao mundo? Seria o caso de ficar preocupado com “perseguição” ou alegre por saber que o momento de testemunhar de forma universal estaria chegando?

O “umbigo do mundo” não pensa assim e não quer que seja assim. É como se os céus fossem exclusividade dele e que os “homens maus” querem persegui-lo. Perseguir por quê? O “umbigo do mundo” responde: “Somos um povo especial, que será perseguido por ser especial, que sofrerá por ser especial, que vencerá por ser especial...”

Notaram a tônica? Em nenhum momento o “umbigo do mundo” denota que ser um povo especial é ser um povo escolhido para testemunhar. Tal testemunho visa ao bem estar dos que “estão fora”, para que venham receber, de graça, a mensagem de fé e de esperança...

Como seria bom se o “umbigo do mundo” voltasse a enxergar os fatos pelo ponto de vista histórico! Como seria bom se esse grupo que se diz especial abandonasse de vez o egocentrismo que insta em ir e vir...

Aguardemos mais um pouco e logo mais veremos a realidade dos acontecimentos. Observem como o “umbigo do mundo” haverá de extrair de Obama e Bento XVI os próximos capítulos dos eventos finais e especiais.

Eventos finais e especiais? Sim! Isso mesmo! Claro que tudo voltado para ele o “umbigo do mundo”.

Continua...

Umbigo do mundo - III
 
As opiniões acerca dos dois textos o “umbigo do mundo” são curiosas e divergentes. O mais interessante é que o título pareceu para alguns como espécie de “carapuça” que, tendo sido lançada ao ar, caiu na cabeça de quem se julgou o alvo. Na realidade tal procedimento reforça a tese que tenho sobre o “umbigo do mundo”: sendo um ente egocêntrico sempre se considerará como alvo de qualquer sugestionamento (uma pena que muitos insistem em comentar apenas por e-mail).

Um pergunta que se eleva é: quem afinal, pode ser considerado como o “umbigo do mundo”? Eis aí algo notável! Essência do proselitismo que está contida em todas as agremiações religiosas.

Eu, por exemplo, cresci numa que tem como referência de “perseguição” religiosa um dia da semana (o sábado). Tal dia, que aparentemente sobrepuja até mesmo a divindade, será a referência de fé e lealdade no futuro. Será tido como vencedor aquele que, por conta da manutenção da santidade desse dia, estiver disposto a passar por qualquer sofrimento para que se “guarde tal dia”. Notem que essa “perseguição” está projetada para o futuro, quando poderes religiosos e políticos tomarão atitudes conspiratórias contra esse povo e esse dia.

Existem outros que já se julgam perseguidos hoje. São os que militam tendo como estandarte a “não transfusão de sangue”. Tal grupo, mesmo hoje, teria motivos para asseverar que é o maior perseguido pelo poder temporal e com anuência do poder religioso. Muitas vezes a transfusão de sangue é feita via força judicial, não é assim?

Há outros que se sentem perseguidos por conta do que chamamos de radicalismo. Lembram-se de 11 de setembro? Vocês podem imaginar a que ponto chega o “umbigo do mundo” que se sente na obrigação de purificar a humanidade através da violência (se necessário for)? Já imaginaram egocentrismo tão brutal?

Leitor amigo: o “umbigo do mundo” é aquele que se considera como alvo preferencial da observação da divindade; crendo plenamente que tudo o que ocorre no universo é para que ele, “umbigo do mundo” mantenha absoluta atenção e esteja preparado. Não importa quantos sofrerão ou morrerão! O que mais importa é que ele “umbigo do mundo” esteja pronto para lutar, sofrer e no fim vencer. Para ele, “umbigo do mundo”, o universo inteiro conspira a seu favor e essa imensidão incomensurável geme tão somente por ele...

Por hora pararei com esses tópicos, mas não sem antes deixar um convite à reflexão. Notem o quanto a cultura religiosa (não é religião) pode ser perniciosa ao incutir na mente das pessoas a idéia sempre permanente da exclusividade. Cada segmento “puxa a sardinha” para o seu lado. É como se houvesse uma disputa constante pela preferência divina. Parece-nos claro que a agremiação que conseguir “arrazoar” melhor será a nação eleita, povo escolhido, jóia divina, objeto único da misericórdia de Deus. Não é o que parece transmitir cada cultura religiosa?

Quanto egocentrismo! E tudo na forma do que insistem (equivocadamente) em chamar de religião...

Enquanto isso eu sugiro que continuem observando as análises que o “umbigo do mundo” continuará fazendo, tendo como “pano de fundo” o papa Bento XVI e o presidente americano, recém eleito, Barak Hussein Obama!

Enéias Teles Borges
Postagem original: 31/08/10

Um comentário:

Maieski disse...

Boa tarde.
Muito interessante seu artigo. Se houvesse um "povo especial" este povo teria que ser mesmo "especial". Boa sorte.
Marcos M Maieski