28 de outubro de 2009

Como entender a questão do amálgama?

Como entender a questão do amálgama?
Enéias Teles Borges

Quando criei este blogue eu tinha um objetivo bem claro: contrastar a Igreja Adventista (IASD) de hoje com aquela que foi estabelecida por seus fundadores. De forma esporádica eu postava um assunto e, por falta de tempo, demorava-me em publicar novo texto.

Resolvi refazer a leitura de alguns livros denominacionais e comparar os livros atuais com os seus equivalentes mais antigos e notei algumas disparidades. Textos que constavam nos livros mais antigos não estavam presentes nos atuais. Por quê?

Separei tempo para ler alguns textos que são de difícil acesso para a membresia leiga e me centrei num ponto adormecido em minha mente. Um tema que até tentei trazer à tona, mas alguns professores, que lecionavam na graduação de teologia, desviaram do assunto sob o argumento de que era questão controversa e que não convinha despender esforços na tentativa de entendê-la.

Como nossa relação com os professores do seminário estava baseada na admiração (pelo conhecimento) e principalmente na confiança (homens de fé) o assunto foi deixado de lado. Ao me deparar, de novo, com a polêmica resolvi trazê-la, aos poucos, à baila. Claro que é assunto desagradável, adormecido no passado e ignorado no presente, cujo foco jamais deveria ter sido negligenciado.

Sei que uma conclusão advirá do que ando lendo e pesquisando. Acredito que, da forma como o assunto se apresenta, confirmarei a decepção. Decepção? Sim, pois tema tão controvertido jamais deveria ter sido relegado ao espaço que há "sob o tapete". Deveria ter sido exaurido!

O que é amálgama?

Definição simples: liga do mercúrio com qualquer outro metal: o amálgama de estanho serve para espelhar o vidro. / Fig. Mistura de pessoas ou coisas heterogêneas, confusão: um amálgama de cores.

A pergunta:

É possível o amálgama entre homens e animais? O que teria dito, sobre o assunto, a maior autoridade entre os pais da igreja (Ellen White) sobre isso?

Textos interessantes:

"Mas se há um pecado acima de todo outro que atraiu a destruição da raça pelo dilúvio, foi o aviltante crime de amálgama de homem e besta que deturpou a imagem de Deus e causou confusão por toda parte." (Spiritual Gifts, Vol. 3, pg.64, 1864)."Toda espécie de animal que Deus criou foi preservada na arca. As espécies confusas que Deus não criara, resultantes da amálgama, foram destruídas pelo dilúvio. Desde o dilúvio, tem havido amálgama de homem e besta como pode ser visto nas quase infindáveis variedades de espécies animais e em certas raças de homens."(Spiritual Gifts, Vol. 3, pg. 75, 1864).

Concluo:

Voltarei ao tema quando tiver reunido condições de postar textos consistentes. Sem medo! Não costumamos dizer que a verdade não teme investigação?
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4 de abril de 2009

Sábado: equilíbrio e idolatria


Manter o sábado santo tem sido o principal mister de muitos adventistas atuais. Para quem observa, de fora, parece ser o ponto mais importante de toda doutrinação dos ASD. O famoso quarto mandamento, que trata de todos os dias da semana, determinando que em seis dias deve-se trabalhar e que no sábado deve-se descansar, ficou polarizado apenas no tão falado sétimo dia. O sábado tem funcionado como um supletivo religioso. Tudo o que deveria ter sido feito em seis dias, para complemento sabático, passa a ser executado tão somente nesse dia. Talvez por isso muitos se concentrem em templos nos sábados. São necessários dois cerimoniais (por enquanto). As atividades das quartas-feiras à noite e do domingo à noite ficam às moscas ou para frequência de “meia dúzia de gatos pingados”. O sábado tem sido algo elevado a um pedestal que parece ser o único referencial salvífico. É como se a justificação pela fé e seus fantásticos ingredientes não existissem. Basta conversar com membros da IASD para ouvir que muito falam sobre o sábado e pouco sabem e falam da doutrina da salvação. São sabatistas convictos!


Não é de se surpreender quando muitos ASD, que guardam apenas o sábado, apontam o dedo para pessoas não tão afeitas à visita ao templo. Muitos ASD sentem necessidade de equilibrar a religiosidade ou prática religiosa levando em consideração a importância de tudo que é feito durante a semana e também no sábado. Quando a semana é muito agitada é necessário, no sábado, priorizar a família em detrimento da comunhão com os demais fiéis. Os irmãos de fé são importantes, mas menos importantes que a família. De que adiantaria uma boa comunhão no templo, sem uma eficiente em casa? De que adiantaria uma excelente comunhão com os fiéis sem uma perfeita comunhão pessoal? Os sabatistas não pensam assim! Para eles o sábado é dia de igreja e ponto final!


Esse tipo de reflexão não é apenas meu. Muitos pensam assim e quero historiar: Certo dia, indo ao fórum João Mendes, no centro de São Paulo, eu andava (dia chuvoso) pela XV de novembro, tendo saído do metrô São Bento, quando ouvi um pregador de rua vociferando contra muitos “crentes” e eu ouvi, quando falou da IASD. Parei para ouvir, fiquei curioso. Ele esbravejou: “E você ASD, é um idólatra. Fala mal dos católicos que adoram imagens, mas adora um dia da semana. O sábado para você é mais importante que o próprio Deus. Fala do sábado mais que de Deus. Fala do sábado mais do que dos méritos de Cristo! Você, ASD, é um idólatra e o seu Deus é o sábado...” Segui meu caminho, mas pensei com os meus botões: “ele tem alguma razão...”


Um dia fiz um teste: pedi a um assíduo igrejeiro sabático para falar o que imaginava sobre a fé dos ASD. Perguntei-lhe se a doutrina da salvação era mais importante que a do sábado. Ele me respondeu que a doutrina da salvação era muito mais importante, mas que a doutrina do sábado também tinha importância, ainda que menor. Pedi para que declinasse sobre ambas. A respeito do sábado discursou quase uma hora. Quando foi falar sobre a doutrina da salvação teve que admitir: pouco sabia... Como algo pode ser mais importante e pouco se saber? Como algo pode ser menos importante e tanto se saber? Fiquei decepcionado! Era uma pessoa graduada e pós-graduada! ASD de berço!


Um domingo eu saí para aparar o cabelo. Bem perto de casa e fui andando. Cheguei a uma barbearia e uma senhora começou a me prestar o serviço. De uma loja de frente vinha um barulho infernal! Tratava-se de uma loja de bairro, dessas que vendem de quase tudo. Um pagode bravo! Caixas de som espalhadas pela calçada. Perguntei se era sempre assim e ela me disse que em quase todos os dias era assim. Só no sábado havia silêncio. Disse-me que os donos eram ASD e que a vizinhança ficava esperando o sábado para ter um pouco de paz. Notaram? São sabatistas que “botam para quebrar” durante a semana e no sábado correm para fazer um supletivo da fé. Idólatras que creem na salvação pela visita ao templo no sábado. O sábado parece um o deus e o templo o lugar para veneração.


E no trabalho? Os ASD pedem de pronto, a liberação do sábado. Pouco se importam se alguém haverá de transgredir tal dia em seus lugares. São pessoas que acreditam que o sábado foi feito tão somente para os ASD e que serviços, ainda que essenciais, devem ser feitos pelos filhos das trevas. Outro ponto curioso: médicos e enfermeiros podem trabalhar no sábado. Curiosamente podem trabalhar no sábado, mas não puderam estudar no sábado. Não é incoerente? A profissão é tão importante que é possível ser exercida no sábado, mas o preparo (estudo) para tão nobre profissão não pode ser no sábado. Trabalhar no sábado é cumprimento de serviço essencial e não estudar no sábado é prova de fé... É algo absurdamente confuso. Conselho de amigo: não tente apontar a incoerência dos ASD, pois você será considerado um “apostatado” e digno de pena...


Sábado: equilíbrio e idolatria. Como ter equilíbrio e fugir da idolatria? Quem sabe uma volta às origens pode ajudar? Lembram-se quando era dito que o culto mais importante era o de oração – quarta à noite? Os sabatistas de plantão nunca estão nesses cultos de poder. Para eles o supletivo sabático é suficiente. Tão suficiente que concede a eles o direito de julgar aqueles que não pensam assim. Aqueles que preferem separar o sábado para equilibrar a semana. Sim, aqueles que entendem que uma semana equilibrada resulta em equilíbrio familiar. O equilíbrio familiar é mais importante do que “bater o ponto” todo sábado no templo. Os ASD igrejeiros não pensam assim, pois o sábado é dia de visita ao templo e cumprimento de liturgia e afins...


Fica sempre uma imagem para quem está distante: fazem o que querem durante a semana e no sábado tomam banho, passam perfume, vestem boas roupas e seguem para o supletivo da fé. No templo e no sábado...

Enéias Teles Borges

28 de março de 2009

Perdendo tempo na igreja

Perdendo tempo na igreja
Enéias Teles Borges


Nasci e fui criado numa família religiosa. Aos dezessete anos de idade mudei-me para um colégio interno e lá permaneci por seis anos na condição de aluno. Nestes anos eu concluí o curso técnico de contabilidade e me bacharelei em teologia. Estudei e trabalhei com seriedade. Nunca fugi da verdade, ainda que no começo dos meus questionamentos, eu ia devagar e com muita cautela. Eu vivia bem no meio de um dos berços da tradição cristã brasileira. Por este motivo eu agia com cuidados especiais e evitava externar meus pontos de vista. Eu não questionava pelo simples prazer de questionar e sim pela necessidade de inserir a racionalidade na minha maneira de pensar religião. Eu não precisava ser um gênio para descobrir que eu estava ali e era religioso daquele jeito pelo simples fato de que nasci num lar cristão adventista e que seguia, de forma rigorosa, os costumes eclesiásticos dos ASD (adventistas do sétimo dia). É claro que se a minha família fosse de outra denominação cristã e tivesse tido o mesmo zelo, eu hoje não seria um indivíduo recheado da cultura adventista. É óbvio que eu teria outra cultura religiosa.

É claro que eu não poderia (como não pude), dizer isso às pessoas em derredor. Eu seria, sem dúvidas, objeto das longas orações intercessórias. Por uma questão de conveniência e consciência eu não poderia sair alardeando minha forma de pensar. Sempre foi de fundamental importância respeitar as opiniões dos outros e evitar tecer comentários sobre assuntos considerados complexos demais para determinadas pessoas. Meus questionamentos seriam abomináveis para muitos e incompreensíveis para outros.

Mesmo assim eu nunca procurei me afastar deste meio. O ambiente sempre foi e será bom. Boas escolas, boas atividades e bons amigos. Dentro desse contexto de cultura religiosa eu sempre me firmei. Os membros de minha família estudaram e estudam nesse ambiente que é de exuberância e de excelência.

Por que tracei as linhas acima? Para deixar bem claro que não repudio minhas origens e até me sinto grato por tê-las em minha maneira de viver. Sempre foi possível separar cultura religiosa da religião efetiva. Vivi e sigo vivendo nesta cultura religiosa e não sou único. Faço parte da maioria. A diferença é que admito viver uma cultura ao passo que outros insistem em pensar que vivem uma religião.

Cultura ou religião há algo comum em nosso proceder: a maneira como vivemos e interagimos. Uma vez por semana (é quase regra) a comunidade se reúne. No nosso caso o dia é o sábado e o lugar é o templo. O templo que frequentamos está entre os que possuem o maior índice de cultura (acadêmica). Refiro-me ao fato de que são professores e alunos, na maioria, o que torna o lugar repleto de conhecimentos e capacidades potenciais.

O que seria de se esperar de uma estrutura assim, um dos principais berços da cultura protestante no Brasil? O natural seria esperar aquilo que o lugar sempre ofereceu: boa música e boas mensagens. Não importa, no meu caso, se tenho cultura ou religião. Importa o fato de que eu me acostumei com o alto nível das mensagens proferidas naquele templo. Desde 1979 eu por ali passei e continuo passando.

Acontece que aquele templo não tem sido mais o mesmo. As mensagens bem elaboradas e bem expostas estão se tornando raras. Com todo o respeito aos membros das comunidades pentecostais eu tenho que dizer que nós estamos ficando parecido com eles. Tanto no conteúdo quanto na forma! O que me leva a exclamar: se eu quisesse ser pentecostal eu mudaria de contexto cultural e se fico ali é justamente pela maneira consistente que sempre existiu.

O que temos lá agora? Boa música e mensagens pífias! Num dos sábados passados eu ouvi um dos pastores sugerindo aos irmãos que testassem a fidelidade divina por noventa dias, devolvendo o dízimo e ofertando! Ele asseverava que bênçãos materiais viriam! Este tipo de mensagem lembra algum aglomerado pentecostal? Claro que sim! Estamos permitindo a entrada da teologia da prosperidade naquela instituição quase centenária! Desde quando os ASD vinculam dízimos e ofertas a bênçãos materiais? A grande bênção não está em ser liberal e esperar (se esperar) recompensa espiritual? Estou esperando o momento em que todos serão conclamados a bater palmas para Jesus, o que já vêm acontecendo numa classe “autônoma” no mesmo ambiente. Uma pena!

Cresci num contexto de cultura religiosa e não lamento por isso. Mas ir ao templo, que frequento desde 1979, tem se mostrado uma perda de tempo. O único tempo que não tenho perdido (por lá) é quando ouço as músicas durante o cerimonial e quando dali me desloco para rever os amigos e vivenciar a segunda parte das atividades sabáticas.

Para entender o que aqui estou postando eu sugiro aos que pertencem às comunidades dos ASD algo bem simples: recuem no tempo, leiam os escritos tradicionais e busquem a doutrina que deu início a esta mensagem tradicionalista. Comparem com o que estão ouvindo hoje. Não me refiro aos aspectos culturais da mensagem, mas ao conteúdo e forma de apresentar. É lastimável e chega a causar profunda tristeza.

Tem sido melhor (muito melhor) ficar em casa, pegar o cãozinho de estimação e dar uma longa volta no condomínio. Tomar um banho, fazer uma boa leitura, navegar na internet e esperar o tempo passar... O chato é ouvir de alguns alienados: não importa o que vem do púlpito, o importante é estar na igreja!

Existem duas maneiras de se perder tempo na igreja: de forma consciente e de forma inconsciente. Eu fujo das duas. Eu me recuso a assistir ao espetáculo: pastores fingindo que alimentam e ovelhas fingindo que são alimentadas...
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