4 de abril de 2009

Sábado: equilíbrio e idolatria


Manter o sábado santo tem sido o principal mister de muitos adventistas atuais. Para quem observa, de fora, parece ser o ponto mais importante de toda doutrinação dos ASD. O famoso quarto mandamento, que trata de todos os dias da semana, determinando que em seis dias deve-se trabalhar e que no sábado deve-se descansar, ficou polarizado apenas no tão falado sétimo dia. O sábado tem funcionado como um supletivo religioso. Tudo o que deveria ter sido feito em seis dias, para complemento sabático, passa a ser executado tão somente nesse dia. Talvez por isso muitos se concentrem em templos nos sábados. São necessários dois cerimoniais (por enquanto). As atividades das quartas-feiras à noite e do domingo à noite ficam às moscas ou para frequência de “meia dúzia de gatos pingados”. O sábado tem sido algo elevado a um pedestal que parece ser o único referencial salvífico. É como se a justificação pela fé e seus fantásticos ingredientes não existissem. Basta conversar com membros da IASD para ouvir que muito falam sobre o sábado e pouco sabem e falam da doutrina da salvação. São sabatistas convictos!


Não é de se surpreender quando muitos ASD, que guardam apenas o sábado, apontam o dedo para pessoas não tão afeitas à visita ao templo. Muitos ASD sentem necessidade de equilibrar a religiosidade ou prática religiosa levando em consideração a importância de tudo que é feito durante a semana e também no sábado. Quando a semana é muito agitada é necessário, no sábado, priorizar a família em detrimento da comunhão com os demais fiéis. Os irmãos de fé são importantes, mas menos importantes que a família. De que adiantaria uma boa comunhão no templo, sem uma eficiente em casa? De que adiantaria uma excelente comunhão com os fiéis sem uma perfeita comunhão pessoal? Os sabatistas não pensam assim! Para eles o sábado é dia de igreja e ponto final!


Esse tipo de reflexão não é apenas meu. Muitos pensam assim e quero historiar: Certo dia, indo ao fórum João Mendes, no centro de São Paulo, eu andava (dia chuvoso) pela XV de novembro, tendo saído do metrô São Bento, quando ouvi um pregador de rua vociferando contra muitos “crentes” e eu ouvi, quando falou da IASD. Parei para ouvir, fiquei curioso. Ele esbravejou: “E você ASD, é um idólatra. Fala mal dos católicos que adoram imagens, mas adora um dia da semana. O sábado para você é mais importante que o próprio Deus. Fala do sábado mais que de Deus. Fala do sábado mais do que dos méritos de Cristo! Você, ASD, é um idólatra e o seu Deus é o sábado...” Segui meu caminho, mas pensei com os meus botões: “ele tem alguma razão...”


Um dia fiz um teste: pedi a um assíduo igrejeiro sabático para falar o que imaginava sobre a fé dos ASD. Perguntei-lhe se a doutrina da salvação era mais importante que a do sábado. Ele me respondeu que a doutrina da salvação era muito mais importante, mas que a doutrina do sábado também tinha importância, ainda que menor. Pedi para que declinasse sobre ambas. A respeito do sábado discursou quase uma hora. Quando foi falar sobre a doutrina da salvação teve que admitir: pouco sabia... Como algo pode ser mais importante e pouco se saber? Como algo pode ser menos importante e tanto se saber? Fiquei decepcionado! Era uma pessoa graduada e pós-graduada! ASD de berço!


Um domingo eu saí para aparar o cabelo. Bem perto de casa e fui andando. Cheguei a uma barbearia e uma senhora começou a me prestar o serviço. De uma loja de frente vinha um barulho infernal! Tratava-se de uma loja de bairro, dessas que vendem de quase tudo. Um pagode bravo! Caixas de som espalhadas pela calçada. Perguntei se era sempre assim e ela me disse que em quase todos os dias era assim. Só no sábado havia silêncio. Disse-me que os donos eram ASD e que a vizinhança ficava esperando o sábado para ter um pouco de paz. Notaram? São sabatistas que “botam para quebrar” durante a semana e no sábado correm para fazer um supletivo da fé. Idólatras que creem na salvação pela visita ao templo no sábado. O sábado parece um o deus e o templo o lugar para veneração.


E no trabalho? Os ASD pedem de pronto, a liberação do sábado. Pouco se importam se alguém haverá de transgredir tal dia em seus lugares. São pessoas que acreditam que o sábado foi feito tão somente para os ASD e que serviços, ainda que essenciais, devem ser feitos pelos filhos das trevas. Outro ponto curioso: médicos e enfermeiros podem trabalhar no sábado. Curiosamente podem trabalhar no sábado, mas não puderam estudar no sábado. Não é incoerente? A profissão é tão importante que é possível ser exercida no sábado, mas o preparo (estudo) para tão nobre profissão não pode ser no sábado. Trabalhar no sábado é cumprimento de serviço essencial e não estudar no sábado é prova de fé... É algo absurdamente confuso. Conselho de amigo: não tente apontar a incoerência dos ASD, pois você será considerado um “apostatado” e digno de pena...


Sábado: equilíbrio e idolatria. Como ter equilíbrio e fugir da idolatria? Quem sabe uma volta às origens pode ajudar? Lembram-se quando era dito que o culto mais importante era o de oração – quarta à noite? Os sabatistas de plantão nunca estão nesses cultos de poder. Para eles o supletivo sabático é suficiente. Tão suficiente que concede a eles o direito de julgar aqueles que não pensam assim. Aqueles que preferem separar o sábado para equilibrar a semana. Sim, aqueles que entendem que uma semana equilibrada resulta em equilíbrio familiar. O equilíbrio familiar é mais importante do que “bater o ponto” todo sábado no templo. Os ASD igrejeiros não pensam assim, pois o sábado é dia de visita ao templo e cumprimento de liturgia e afins...


Fica sempre uma imagem para quem está distante: fazem o que querem durante a semana e no sábado tomam banho, passam perfume, vestem boas roupas e seguem para o supletivo da fé. No templo e no sábado...

Enéias Teles Borges